Datado de 1929, neste duplo autorretrato, o artista pinta-se no próprio ato da representação. Jogo de tempos contrários premeditadamente concretizado entre os dois universos em que se moveu o artista — o do desenho e o da pintura — com reforço evidente do primeiro, uma vez que o retrato pintado é aqui o momento de passagem e o desenho, apurado no rigor e na síntese, a obra final.
Esta é uma obra singular que José Tagarro realizou no final da vida e foi, aliás, prematuramente interrompida. É considerada das mais reveladoras do entendimento que o artista teve da sua própria produção e percurso.
Natural do Cartaxo, José Tagarro (1902 – 1931) foi um desenhador, gravador e pintor da segunda geração modernista, tendo frequentado, entre 1920 e 1927, a Escola de Belas-Artes de Lisboa, enquanto discípulo de Columbano e Carlos Reis. Prosseguiu a sua formação em Paris (em 1929).
Apreciado como um dos mais marcantes autorretratos da arte portuguesa, esta obra desperta atenção e curiosidade nos visitantes do Museu Nacional Soares dos Reis, onde se encontra exposta.
Recorde-se que, em outubro do ano passado, uma delegação do Met Museum – The Metropolitan Museum of Art, de Nova Iorque (na qual se integravam também alumni das Universidades de Harvard e de Chicago), visitou o Museu Nacional Soares dos Reis, com o propósito específico de apreciar o Autorretrato de José Tagarro, numa sessão conduzida por Rika Burnham, Coordenadora do Serviço de Educação do Met Museum.