Integrado num festival internacional de cinema sobre arquivo, memória e etnografia, o Family Film Project, este evento pretende desafiar artistas e teóricos a explorarem a performatividade a partir de material ou conceitos de arquivo pessoal ou de terceiros. Dia 15 outubro, pelas 17 horas, com entrada livre.
O Family Film Project é um festival de cinema que decorre anualmente no Porto, desde 2012. Além das sessões de cinema, o Family Film Project organiza vários tipos de eventos culturais paralelos: exposições e instalações, filmes-concerto, performances em locais diversos da cidade, masterclasses, conferências e lançamentos de livros.
Com diversas linhas de atuação, o festival coloca-se nas barreiras concetuais entre o cinema e as outras artes e áreas de pensamento.
Na presente edição do Family Film Project, a secção Private Collection será dedicada ao pensamento de Foucault. A intenção é apresentar um conjunto de propostas performativas nos seus valores expandidos (interdisciplinaridade, deslocamentos espaciais, deslocamentos temáticos) capazes de dialogar com algumas das noções centrais de Foucault.
Na performance ‘Para escapar à normapatia: esquizoanálise para todos’, Susana Caló e Godofredo Enes Pereira exploram uma polifonia de material documental e de arquivo, de vídeo, imagem, histórias orais e música, para apresentar a sua investigação sobre o inconsciente institucional e a ideia de uma ‘análise militante’.
Sinopse
Um cineasta é chamado para filmar um hospital psiquiátrico. Decide dar a camara aos pacientes para serem eles a filmar a sua vida diária. Um grupo de pacientes oferece dinheiro a uma pessoa que sonha ser ciclista. Um cozinheiro que faz terapia na cozinha ao mesmo tempo que prepara as refeições. Uma cozinha que é também uma ópera. Uma creche em que as crianças é que mandam. Um motorista que nunca tirou a carta. Uma reunião semanal onde não se fala sobre nada. Um sistema de salários em que cada um recebe o que precisa. Uma lavandaria que é lugar de encontro. Dois investigadores que investigam a própria vida. Consultas de psicoterapia por carta. Uma vaga de cristal. Dizia Jean Oury que a normopatia era a nossa doença. Dizia Tosquelles que depois de conhecer pessoas normais nunca mais teve dificuldade em compreender os loucos. Estórias-máquinas para re-imaginar a política. Só através do desejo se pode ler o desejo.
Biografias
Susana Caló é investigadora em filosofia, psicopolítica e semiótica. Doutorou-se no Centro de Investigação em Filosofia Moderna Contemporânea, em Londres, com uma reconstrução da política da linguagem e da semiótica a partir do trabalho do ativista e psicanalista Félix Guattari. A sua investigação atual dedica-se a reconstruir histórias menores da psicanalise e psiquiatria nas suas intersecções com lutas político-sociais mais amplas, e a vida colectiva dos conceitos no pensamento francês do pós-guerra, através de histórias orais e construção de arquivos. É investigadora convidada no Centre for Humanities and Health, King’s College London e co-investigadora do projeto “Pragmatic Genealogy of Concepts” (KCL), financiado pela British Academy. É membro do coletivo Other Ways to Care, e co-fundadora da plataforma Chaosmosemedia.
Godofredo Enes Pereira é arquiteto, investigador e diretor do mestrado em Environmental Architecture no Royal College of Art, em Londres. É doutorado pelo Centre for Research Architecture da Goldsmiths University London. Na última década, tem vindo a desenvolver investigação, publicações e exposições sobre arquitetura ambiental, territórios existenciais e equipamentos coletivos. É co-investigador no projeto “Scales of Climate Justice” com financiamento da British Academy e fundador do GIT/Grupo de Investigação Territorial.
Desde 2017, Susana Caló e Godofredo Pereira trabalham no livro CERFI. Análise militante, Equipamento coletivo e Programação Institucional, com publicação prevista para 2024, pela Minor Compositions.