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150 anos do gesso original do «Cristo Morto» de Soares dos Reis

7 de Dezembro, 2023

“As escassas sete obras de pendor religioso realizadas nos primeiros anos da carreira de Soares dos Reis resumem a sua breve incursão pela temática. Entre os poucos modelos de cariz devoto, que o Museu Nacional Soares dos Reis conserva, figura o gesso do Cristo Morto, que serviu de modelo para a imagem oferecida por Soares dos Reis à Igreja de Mafamude, em Gaia (altar de S. Vicente).

 

Destinado a um altar e apresentando-se originalmente como um nú, para ter aceitação, teve de ser sujeito a encobrimento com uma faixa em tela endurecida, tal como se observa no Cristo de madeira. Essa degeneração não se vê, felizmente, na maquete em gesso do Museu Nacional Soares dos Reis, que apresenta o jacente em estado original.

O corpo é esbelto, mas não musculado quanto seria mister para que se apresentasse corpulento. Tem a cabeça proporcionada, pendente sobre o lado direito, a cabeleira é farta e mostra um ondulado largo, o tronco exibe musculatura correta, as pernas altas, delgadas, mas vigorosas.

 

Tão sujeito a uma interpretação naturalista, como acontece a um modelo humano em geral, este Cristo apresenta modelado correto, graças à técnica apurada no estrangeiro e à influência benéfica de António Luís da Silva Cruz.

 

Para o belo efeito da composição contribui a liberdade de movimentos, notável no arqueado do peito, na fronte caída e nas mechas pendentes do cabelo.

 

Em Soares dos Reis, o modo de trabalhar o barro diferenciou-se, nalguns casos, da obra acabada, com prejuízo desta. Não é o caso do Cristo em madeira de Mafamude, que apresenta uma extraordinária perfeição no modelado mas sem que isso se traduza num acabamento excessivo ou polimento exagerado; pelo contrário, daí resulta vantajoso aumento de vibração, ao invés do original em gesso do Museu Nacional Soares dos Reis, onde se observa menos vigor quer no relevo quer no movimento”[1].

 

A versão em madeira policromada do «Cristo Morto» foi oferecida por António Soares dos Reis à Igreja de S. Cristóvão de Mafamude, sua freguesia de origem, assinalando o local onde foi batizado.

 

[1] SANTOS, Paula M. Mesquita Leite, A escultura religiosa de Soares dos Reis e a iconografia da Virgem para Guimarães. Revista de Guimarães, 112 Jan.-Dez. 2002, p. 385-408.

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