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140 anos da pintura ‘Interior (Costureiras trabalhando)’

4 de Setembro, 2024

Marques de Oliveira realizou esta pintura há 140 anos (em 1884), poucos anos após o regresso do seu pensionato em França e em Itália, entre 1873 e 1879.

 

Neste óleo sobre tela é representada uma cena de intimidade doméstica, bem definida no título original que o pintor lhe atribuiu quando expôs ‘Entre o almoço e o jantar’.

 

A obra revela um sentido de composição e tratamento da luz de grande qualidade plástica associado a uma rara riqueza narrativa.

 

Uma novidade inesperada nesta representação é o diálogo entre o interior, onde tudo se passa, numa atmosfera intimista, e a paisagem representada ao fundo, de onde emana a luz intensa que invade o interior em sentido oblíquo e se vê projetada na mancha branca da toalha posta sobre a mesa e na transparência da garrafa.

Sobre Marques de Oliveira

João Marques de Oliveira, pintor realista e introdutor do naturalismo em Portugal. Natural do Porto, a vocação para o desenho expressa desde a infância levou-o, com onze anos de idade, a ingressar na Academia Portuense de Belas Artes, nas aulas de Desenho Histórico, Arquitetura Civil e Perspetiva.

 

Em 1873, partiu para Paris com o colega Silva Porto, na qualidade de pensionista na classe de Pintura Histórica. Na cidade luz, Marques de Oliveira prosseguiu os estudos na Escola Nacional de Belas Artes com os professores Alexandre Cabanel e M. Yvon e teve oportunidade de contactar com alguns movimentos pictóricos, como o naturalismo da Escola de Barbizon e o Impressionismo, e de efetuar visitas de estudo à Holanda, à Bélgica e à Itália.

 

As suas obras deste período foram, por diversas vezes, agraciadas com medalhas e menções honrosas. Como prova final do pensionato apresentou o quadro Céfalo e Prócris (na imagem).

Céfalo e Prócris, de Marques de Oliveira

No regresso ao país em 1879, numa época conturbada no meio artístico portuense, dominada pelo aceso debate sobre a reforma académica e do ensino das Belas-Artes, Oliveira e Silva Porto introduziram a Pintura de Ar Livre em Portugal e foram nomeados Académicos de Mérito da APBA.

 

Neste contexto, surgiu no Porto, em 1880, o Centro Artístico Portuense, uma associação de artistas que buscavam o progresso das artes em Portugal, tal como em Lisboa pretendia o Grupo de Leão, de Silva Porto. Na primeira eleição para a direção desta instituição, o escultor Soares dos Reis assumiu a presidência e Marques de Oliveira a vice-presidência, integrando também o conselho técnico.

 

Pelo decreto de 26 de Maio de 1911, as Academias de Belas Artes deram lugar a três Conselhos de Arte e Arqueologia, ficando a Circunscrição do Porto (a 3ª) a tutelar o Museu Portuense que passou então a denominar-se Museu Soares dos Reis.

 

Em 1913 deixou o cargo de diretor da Escola de Belas Artes do Porto para assumir o de diretor do Museu Soares dos Reis, mantendo, no entanto, os seus cargos no Conselho de Arte e Arqueologia. Em 1926 foi compelido a abandonar a docência, por ter excedido a idade limite permitida pela nova lei, mas também por motivos de saúde. Faleceu, no Porto, a 9 de outubro de 1927.

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