A peça ‘Coroa de Víboras’, de autoria de Mina Gallos, elaborada em barro cozido e vidrado, é a grande vencedora do Concurso ‘Afinidades na Joalharia Contemporânea’.
Desde julho, a exposição homónima, com curadoria de Inês Nunes, deu palco a artistas e joalheiros do quarteirão Bombarda, cujos objetos artísticos foram inspirados pela escultura “Busto de Firmino”, de António Soares dos Reis, ligando o património do Museu Nacional Soares dos Reis à produção artística contemporânea.
As peças dos participantes foram, ao longo destes quatro meses, apreciadas pelos visitantes da exposição e por um júri especializado, composto por figuras de relevo da joalharia contemporânea. A eleição da peça vencedora traduz, assim, o resultado da soma das apreciações dos elementos do Júri e da votação do público.
Esta obra, representada pela Galeria Cruzes Canhoto, “destaca-se pela sua singularidade, expressão artística e contribuição para o universo da joalharia contemporânea”, considera o Júri.
Na descrição da autora Mina Gallos, a peça vencedora foi idealizada como “uma coroa de víboras como uma coroa de louros como uma coroa de espinhos”, evocando “a dualidade que se estabeleceu entre o mestre/artista (Soares dos Reis) e o aluno/modelo (Firmino) numa relação ambivalente de poder e submissão, de desejo e tentação. Um objeto que pode adornar a cabeça enquanto coroação da mestria artística, mas igualmente enquanto marca de um processo de martirização”.
O anúncio dos resultados do concurso decorreu, no passado sábado, durante a sessão de encerramento da primeira edição do Afinidades que regressará em 2025.
O projeto Afinidades é um programa plurianual desenvolvido pelo Museu Nacional Soares dos Reis em parceria com a Associação Quarteirão Criativo, contando com o mecenato do Super Bock Group e o apoio do Círculo Dr. José de Figueiredo – Amigos do Museu Nacional Soares dos Reis.
Sobre a autora *
Natural de Barcelos, Mina Gallos (Felismina Faria da Silva) encontra-se representada no Quarteirão Bombarda na Galeria Cruzes Canhoto. Desde cedo, mostrou interesse pela atividade de manipular o barro, tendo começado a executar os primeiros trabalhos, aos 11 anos, na Galante, uma das empresas de cerâmica da região que se dedicavam à produção de figurado de molde. Mais tarde, mudou-se para uma das empresas concorrentes, a Cerâmica Magrou, por onde haviam passado diversos mestres do figurado de Barcelos.
Em 2015, após a morte da mãe, Mina Gallos decidiu começar a criar peças da sua autoria. Os Galos e as Bonecas que desenvolveu, e que logo lhe granjearam alguma atenção por parte dos colecionadores de arte popular, continham já uma marca muito pessoal, refletindo quer a sua vasta experiência profissional quer a personalidade singular da artista.
Mais recentemente, dando asas à sua imaginação fértil e inquieta, começou a criar um conjunto de figuras do domínio do fantástico, onde os animais se confundem com feras e demónios, explorando o imaginário profundamente religioso e dualístico daquela região do Minho.
*Biografia adaptada do site Cruzes Canhoto