Loading...
História

Origem

Pormenor do interior do andar nobre do Palácio dos Carrancas

Pormenor do interior do andar nobre do Palácio dos Carrancas

O Museu Nacional Soares dos Reis tem origem no Museu de Pinturas e Estampas e outros objetos de Belas Artes, criado em 1833 por D. Pedro IV de Portugal, primeiro Imperador do Brasil, para salvaguarda dos bens sequestrados aos absolutistas e conventos abandonados na guerra civil (1832-34). Com a extinção das ordens religiosas recolheram-se obras, entre outros, nos mosteiros de Tibães e de Santa Cruz de Coimbra. Conhecido como Museu Portuense, ficou instalado no extinto Convento de Santo António da Cidade, na praça de S. Lázaro, vindo a ser formalizado por decreto em 1836 por D. Maria II.

Em 1839 passou para a direção da Academia Portuense de Belas Artes, que promoveu uma série de exposições onde foram premiados notáveis artistas como Soares dos Reis, Silva Porto, Marques de Oliveira e Henrique Pousão, em sucessivas gerações de mestres e discípulos.

Com a proclamação da República passou a designar-se Museu Soares dos Reis em memória de um dos mais destacados nomes da Arte Portuguesa. Em 1932 passou à categoria de Museu Nacional, época marcada por uma reorganização significativa de Vasco Valente, através da incorporação dos objetos do Paço Episcopal do Porto (Mitra) e do Museu Industrial, bem como do depósito das coleções do extinto Museu Municipal.

Segue-se a instalação do Museu no Palácio dos Carrancas onde, no âmbito das Comemorações Nacionais de 1940, foi inaugurada a exposição A Obra de Soares dos Reis.

Na década de 1950, o Museu Nacional Soares dos Reis investiu na atualização das coleções de Pintura e Escultura com obras de artistas contemporâneas, tendência que, após o 25 de Abril de 1974, tem continuidade no Centro de Arte Contemporânea (CAC), ponto de partida para o Museu Nacional de Arte Moderna, atual Fundação de Serralves.

O Instituto Português de Museus marcou a remodelação do Museu Nacional Soares dos Reis em 2001 com o projeto de arquitetura do atelier de Fernando Távora dotando-o de novos espaços de reservas, exposições temporárias, auditório e serviço de educação.

História

Edifício

Fachada do Museu Nacional Soares dos Reis

Edifício do MNSR

O Palácio dos Carrancas foi mandado construir em 1795 pela família Morais e Castro, descendente de cristãos-novos, pertencente à burguesia portuense e que enriqueceu com a Fábrica de Tirador de Fio de Ouro e Prata aqui instalada. O edifício, com unidade fabril e residência, testemunhou e foi palco de acontecimentos sociais, militares e políticos ao longo do século XIX.

Marcadamente urbano e seguidor do estilo Neoclássico, que se instalava então no Porto, o Palácio teve um carater único em contexto de construção privada. Tudo aponta para a intervenção dos arquitetos municipais Joaquim da Costa Lima Sampaio e José Francisco de Paiva. A fachada, de grande clareza de desenho, dividia o edifício em dois corpos horizontais. A distribuição seguia a hierarquia do antigo regime e os tratados de Arquitetura: andar nobre, pátio fechado com muro alteado, separação da manufatura e operários e a quinta recuada. O luxo afirmava-se nos espaços interiores, nomeadamente no andar nobre, permanecendo ainda dessa época uma grandiosa Sala de Jantar e a Sala da Música.

A grandiosidade do edifício associou-o ao cenário dos grandes acontecimentos político-militares da cidade. Durante a primeira invasão francesa, foi considerado um local estratégico e ocupado pelo marechal Soult. Pouco depois, estabelecia-se aqui o seu sucessor no comando militar da cidade, chefe do exército libertador, o general Arthur Wellesley.

Noutro conflito militar, o Cerco do Porto (1832-1833), os Morais e Castro acolheram o rei soldado, D. Pedro IV, que do Palácio administrou o país até que uma ameaça da artilharia o forçou a transferir-se para outro local.

Uma trajetória de declínio financeiro e uma luta ineficaz pela recuperação de privilégios perdidos da antiga fábrica levaram a proprietária, D. Carlota Rita Morais e Castro, baronesa de Nevogilde, a colocar à venda o Palácio. Este acabou por ser comprado pelo rei D. Pedro V e, a partir de 1862, abriu-se uma nova página da história do edifício e da cidade, com a vinda ocasional da família real ao Porto. Momentos celebrativos traziam os monarcas à cidade e o Paço funcionava como espaço de representação institucional e receção dos monarcas.

O Palácio abriu, igualmente, as suas portas como espaço recreativo com a inauguração do Velódromo Maria Amélia, em 1894, no terreno da antiga quinta, um amplo recinto desportivo. Com pista para velocípedes, a grande atração do espaço, e dois cortes de lawn-tennis ao centro, recebia novas modalidades em expansão entre as elites da cidade.

Em 1932, com a morte de D. Manuel II, o último rei de Portugal, o edifício foi doado em testamento à Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP). Paralelamente, o Estado demonstrava interesse na salvaguarda e utilização do imóvel para fins culturais. Surgia a solução, há muito tempo procurada, para acolher o MNSR. Mediante acordo com a SCMP, o imóvel foi incorporado no Património do Estado em 1937. Em consonância com a Museologia da época, o edifício oferecia condições excecionais pelas suas qualidades arquitetónicas e respetiva história, para adaptação à nova função.

História

Patrono do Museu – Soares dos Reis

António Soares dos Reis - Patrono do MNSR

Retrato de Soares dos Reis por João Marques da Silva Oliveira, 1881

Em 1911, no âmbito das reformas institucionais da República, o Museu vê alterada a sua designação para Museu Soares dos Reis em homenagem ao artista de mérito da Academia Portuense de Belas Artes, um dos seus maiores, o primeiro bolseiro em escultura no estrangeiro e com expressiva representação no seu acervo.

No percurso da exposição de longa duração, a obra de António Soares dos Reis (1847-1889) ocupa um lugar central. A escultura O Desterrado, obra saudosista que o consagrou, foi realizada em Roma, em 1872, como prova final de aluno bolseiro no estrangeiro.

Outras peças do escultor assumem lugar de destaque ao longo do discurso expositivo. O Conde de Ferreira, mármore proveniente do Cemitério de Agramonte, no Porto, o busto Flor Agreste e a Filha dos Condes de Almedina são de uma fase em que Soares dos Reis obteve grande projeção como professor na Academia de Belas Artes. Na sua obra de retrato são de notar figuras da alta burguesia portuense tais como o busto de Joaquim Pinto Leite ou da Viscondessa de Moser, que se alinham na galeria tendo como desfecho o Busto da Inglesa, Mrs. Leech ou gesso de Fontes Pereira de Melo.

A influência de Soares dos Reis nos artistas formados pela Escola de Belas Artes do Porto é notória nos seus discípulos António Teixeira Lopes (1866-1942) e Augusto Santo (1868-1907), com obras que integram o acervo do Museu Nacional Soares dos Reis.

×