Loading...

Jaime Fernandes: um dos nomes mais marcantes da arte bruta portuguesa

29 de Agosto, 2023

Iniciada na década de 1980, a Coleção Treger Saint Silvestre, em depósito no Centro de Arte Oliva, integra um numeroso acervo de obras de Arte Bruta, sendo uma das mais importantes e extensivas coleções privadas no mundo e contando com um largo número de autores reconhecidos.

 

Inspirados no percurso iniciado por Jean Dubuffet, pioneiro na recolha destas produções artísticas, os dois colecionadores reuniram um conjunto de obras que se convertem em relatos do inconsciente e assumem, de forma involuntária, aspetos subversivos perante o discurso da norma e da ordem estabelecida.

A exposição “Portreto de la Animo“, patente no Museu Nacional Soares dos Reis, é um recorte desta magnífica coleção que reúne um núcleo de obras focadas no retrato e no autorretrato, em confronto ou diálogo expositivo com outras peças das coleções do Museu.

 

Os retratos pintados por estes artistas revelam uma figura interior, uma criatividade e invenção particularmente viva, como se pode observar, por exemplo, nas obras de Aloïse Corbaz, Ted Gordon, James Deed, Edemund Monsiel, Aleksander Lobanov, Alessandra Michelangelo ou de Jaime Fernandes, um dos nomes mais marcantes da arte bruta portuguesa.

 

Jaime Fernandes (Portugal, 1899 – 1969)

“Jaime Fernandes é inequivocamente o mais reconhecido artista da Arte Bruta/Outsider Portuguesa. Porém, este reconhecimento acontece sobretudo fora do país, facto que se explica quer pela perda de uma grande parte da sua obra, quer porque a maioria remanescente se encontra dispersa em coleções no estrangeiro.

 

Esta obscuridade prende-se com factos a que não são estranhas as circunstâncias da sua vida isolada, a forma como desenvolveu a sua obra e como esta posteriormente circulou: diagnosticado com esquizofrenia em 1938, Jaime foi internado por mais de três décadas no Hospital Miguel Bombarda (Lisboa), onde viria a morrer em 1969.

 

De acordo com testemunhos e referências feitas aos desenhos nos registos clínicos do hospital, e com as cartas que escrevia à mulher,  Jaime Fernandes começou, de forma inesperada, a desenhar aos 66 anos, quatro anos antes da sua morte.

 

A totalidade da sua obra conhecida é composta por desenhos não datados, feitos com esferográficas coloridas sobre diversos tipos de papel. Neles um reduzido formulário de figuras, entre as quais animais imaginários, figuras humanas ou antropomórficas surgem e ressurgem em inúmeras variações, sempre desenhadas numa densa trama de linhas.

 

As cartas, outros escritos e os seus desenhos foram filmados, já́ depois da sua morte, por António Reis e Margarida Cordeiro, dando origem ao filme Jaime (1974), que marcou o primeiro momento público de divulgação da obra do artista.

 

Recuperando as palavras de António Reis, Jaime Fernandes «tinha perfeita noção do espaço a ocupar pelo desenho ou pintura. Como estava limitado pelas pequenas dimensões do papel, muitas das suas figuras-homens têm os braços caídos ou levantados, enquanto as figuras-animais têm a cauda caída. Portanto, as atitudes do desenho estão sempre em função da delimitação do papel, para a qual ele achava sempre uma solução plástica genial. É possível que também estejam ligadas a uma estereotipia emocional, obsessiva e a arquétipos…»”

 

Fonte: Centro de Arte Oliva

×