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Evocação do fatídico naufrágio do vapor Saint André em 1901

24 de Janeiro, 2024

Com o tema «Balanço de um Século», a Exposição Universal de Paris de 1900 decorreu entre abril e novembro de 1900. Portugal foi um dos 40 países presentes, com dois pavilhões, ambos com projeto do arquiteto Ventura Terra.

 

A 24 de janeiro de 1901, um dos quatro navios – contratados para transportar as obras nacionais de regresso a Portugal – naufragou, perdendo-se a quase totalidade das peças.

 

As dificuldades de navegabilidade acompanharam toda a viagem, desde o porto Le Havre, mas foi já junto à costa portuguesa que, enfrentando maiores perigos, o Saint-André foi abandonado pela tripulação.

 

De Lisboa, para tentar o resgate, ainda foi enviado o arrastão Berrio, mas em vão. Deixado à deriva, o vapor foi arrastado e terá afundado algures a Sul de Portugal, à vista de Sagres.

Parte do casco, um barril de óleo mineral e um remo foi tudo o que foi encontrado. Perderam-se, então, quadros de Malhoa; Columbano; Carlos Reis; Alfredo Keil; Alberto Pinto; Sousa Pinto; Veloso Salgado; Carneiro Júnior, entre outros.

 

Esculturas, cerâmica e azulejaria de grande qualidade e beleza, nomeadamente da Real Fábrica Vista Alegre, Fábrica das Devesas (Vila Nova de Gaia); Cerâmica do Carvalhinho (Porto), Faianças das Caldas da Rainha, Fábrica de Louça de Avelino António Soares Belo, e também azulejos antigos pertencentes a coleções particulares.

 

No conjunto, estas preciosidades integravam a orgulhosa representação portuguesa e algumas chegaram mesmo a ser distinguidas pelo júri parisiense, vendo o seu valor artístico reconhecido com a atribuição de medalhas.

 

Só se salvaram as poucas que seguiram para Portugal por outras vias – comboio e mais três embarcações – ou se desviaram da sua rota destrutiva – como o quadro “As padeiras”, de José Malhoa – porque rumaram para outras exposições, na Rússia e na Alemanha.

 

O naufrágio ditou ainda a perda de outra carga preciosa a bordo do Saint-André e que se perdeu para sempre: a documentação pessoal de Eça de Queirós e os móveis da casa onde falecera em Neuilly-sur-Seine, nos arredores de Paris, em 16 de agosto de 1900. A viúva tinha pedido para serem transportados no navio que o governo fretara para o retorno de parte das obras expostas em Paris.

 

A Exposição Universal de Paris de 1900 acolheu cerca de 51 milhões de visitantes, tendo ocupado uma área de 216 hectares repartidos pelo centro de Paris, ao longo das duas margens do Sena, e Bois de Vincennes, deixando construções icónicas que ainda hoje perduram: a Ponte Alexandre III, o Grand e o Petit Palais, a Gare d’Orsay (hoje Museu) e o Metro de Paris, cuja primeira linha foi inaugurada para a Exposição.

 

Fontes: Blog O Sal da História e Tribunal de Contas

Créditos Fotográficos: Lucien Baylac (1851–1913) – Imagem disponível na Divisão de Gravuras e Fotografias da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos da América

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