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Categoria de Coleção: Tesouros Nacionais

O Museu Nacional Soares dos Reis possui um conjunto de 10 peças classificadas como bens de interesse nacional, também designadas de Tesouros Nacionais. Esta classificação é atribuída aos objetos de incontestável valor nacional pela sua antiguidade, autenticidade, criatividade, exemplaridade, memória, originalidade, raridade ou singularidade.

Casas brancas de Capri

Henrique Pousão (1859-1884)
1882
Óleo sobre tela

Ficha de inventário

Casas brancas de Capri é uma paisagem do pintor naturalista Henrique Pousão, uma pintura que revela as excecionais qualidades do artista, o seu talento para a composição e a sua particular sensibilidade para a luz mediterrânica que acentua as formas e os contrastes cromáticos.
Com apenas 22 anos, no final de 1881 Henrique Pousão deixou Paris e rumou a Itália em busca de um clima mais favorável à sua saúde já debilitada. Ali permaneceu cerca de dois anos e realizou algumas das obras mais emblemáticas da sua produção artística. Esta pintura, datada de 1882, fez parte da segunda remessa de pensionista enviada, posteriormente, à Academia Portuense de Belas Artes. Nesta tela o pintor conjuga harmoniosamente o sentido narrativo, que valoriza o motivo, com uma linguagem mais sintética expressa nas formas geométricas das arquiteturas do plano intermédio.

Autorretrato de Aurélia de Souza

Aurélia de Sousa (1866-1922)
c. 1900
Óleo sobre tela

Ficha de inventário

Neste autorretrato, um dos vários que pintou ao longo da vida, Aurélia apresenta-se numa figuração enigmática e inquietante. Uma pequena tela que se presume realizada em Paris por volta de 1900, esta é uma pintura com particularidades únicas que a distanciam das convenções oitocentistas e lhe conferem uma inesperada modernidade.

Nesta obra destaca-se a absoluta frontalidade da figura suspensa que emerge sobre o fundo negro. O rosto oval, que marca o centro exato da composição, surge como uma máscara, a imagem de si que a pintora quer (ou não) revelar, numa dupla centralidade física e mental. A rigorosa simetria desenvolve-se a partir da linha vertical sugerida pelo meio do cabelo, da face, do camafeu, da renda da blusa e do triângulo desenhado pelo casaco vermelho. Este, pela densidade da cor vermelha e pela extensão da mancha, assume um protagonismo formal essencial. Unanimemente considerada uma obra-prima do autorretrato em Portugal, esta é uma pintura que alcançou reconhecimento internacional.

Busto relicário de São Pantaleão

Autoria desconhecida
Séculos XV e XVI
Prata branca, dourada e pintada; esmaltes; ouro, quartzo hialino

Ficha de inventário

O culto de São Pantaleão tem longa tradição na igreja Católica e o mártir do século III e IV chegou a ser o santo padroeiro da cidade do Porto.
A devoção a S. Pantaleão, médico martirizado na antiga cidade grega Nicomédia em 303 d.C, instalou-se na cidade do Porto por influência de um grupo de cristãos arménios. Segundo relatos da época, este grupo terá chegado ao Porto no final da Idade Média, trazendo consigo as relíquias daquele santo, que depositaram na Igreja de São Pedro de Miragaia. Em 1499, por decisão do bispo D. Diogo de Sousa, as relíquias foram transladadas para a Sé Catedral do Porto. No busto relicário, utilizado na visita a doentes, foi guardado um fragmento do crânio de São Pantaleão.

Este objeto devocional, que integra as coleções do MNSR desde 1941, é um dos mais antigos bustos relicários conhecidos em Portugal. Pela ausência de objetos similares, torna-se difícil estabelecer uma cronologia exata para a sua execução e definir a origem do seu fabrico.

Crossa de báculo episcopal

Antonio Arrighi  (ourives)
1740
Prata fundida, cinzelada; dourada

Ficha de inventário

Esta crossa de báculo provém de um conjunto de peças pertencentes a D. Frei José Maria da Fonseca Évora (bispo do Porto, 1741-1752).  Um registo de pagamento, datado de 10 de janeiro de 1740, documenta a sua execução na oficina do famoso ourives italiano Antonio Arrighi. Já a sua identificação num retrato de D. Frei José da Fonseca e Évora permitiu relacionar com este a origem da encomenda.
O báculo é um bastão que se entrega a um bispo católico na cerimónia da sua consagração, rematado por um motivo decorativo curvilíneo designado por crossa. Trata-se de um objeto de elevado valor simbólico, que testemunha o poder, a riqueza e a importância de quem o encomendou e possuiu.
No contexto cultural de requinte e esplendor vividos pela corte portuguesa ao longo do século XVIII, a Igreja, refletindo esse mesmo espírito, rodeou-se de preciosos objetos religiosos, maioritariamente encomendados a ourives italianos. É o caso desta crossa de báculo, da autoria do ourives Antonio Arrighi (1687-1776).
A peça, proveniente do antigo Paço Episcopal do Porto, integra o acervo do MNSR desde 1932.

Conde de Ferreira

António Soares dos Reis (1847-1889)
1876
Gesso original

Ficha de inventário

Soares dos Reis retratou Joaquim Ferreira dos Santos, Conde de Ferreira (1782-1866), com o uniforme de Par do Reino, onde se incluem os símbolos do escudo português, faixa e comenda da Cruz de Cristo.
A estátua foi executada em mármore para o Cemitério de Agramonte em homenagem ao benemérito, cujo legado à Santa Casa da Misericórdia do Porto determinara a construção de 120 escolas de ensino primário e um hospital para doenças mentais — o Hospital do Conde de Ferreira. É de salientar a expressão do filantropo, que deve relacionar-se com o agrado sentido pelo valor social do seu legado. Notar ainda o equilíbrio da composição: um braço pousa no pedestal onde cai a capa e, em contraposto, o outro dobra-se junto à faixa segurando as luvas, em gesto de elegância. Ver ainda o tratamento plástico dos membros inferiores, que muito contribui para a qualidade expressiva da obra.

O Desterrado

António Soares dos Reis (1847-1889)
1872
Mármore de Carrara

Ficha de inventário

Uma das mais importantes obras da escultura oitocentista portuguesa, O Desterrado inspira-se no poema de exílio de Alexandre Herculano, as Tristezas do desterro. A peça foi a prova final do curso de Escultura tendo sido realizada em Roma, onde Soares dos Reis se acolheu no Instituto de Santo António dos Portugueses para conclusão da bolsa no estrangeiro.
A emotividade saudosista que a obra transmite traduz-se no mármore pela postura nostálgica da figura assente numa rocha batida pelo mar. Num sentido mais amplo, a obra devolve-nos a imagem de um homem solitário e pensativo, que está intimamente ligada à ideia de evasão no imaginário romântico. A saudade, o desejo de regresso à Pátria, a nostalgia da terra-mãe parecem formar um estado de espírito dominante na experiência marítima dos portugueses, plano em que O Desterrado de Soares dos Reis assume uma dimensão superior, de representação coletiva.

Janela das persianas azuis

Henrique Pousão (1859-1884)
1882-1883
Óleo sobre madeira

Ficha de inventário

Pintada durante uma das suas estadias na Ilha de Capri, nos Verões de 1882 e 1883, esta pequena tábua inacabada apresenta-se como o culminar da pesquisa plástica iniciada por Pousão em obras como As Casas Brancas de Capri e Paisagem de Anacapri.
Exemplifica o mais radical entendimento geométrico do espaço e a mais complexa articulação entre a cor e a forma que podemos encontrar em toda a obra do artista. A obra apresenta o fragmento da paisagem arquitetónica como um todo pictórico, válido pelo seu interesse plástico e não pela qualidade da mimetização ou pelo valor simbólico ou narrativo do que representa. É essa proposta, a da independência da pintura, entendida como um conjunto de cores, planos e formas mais do que como um veículo de representação de um rosto, de uma paisagem ou de uma natureza morta, que faz com que Janela das persianas azuis seja celebrada como uma obra de precoce modernidade.

Senhora vestida de preto

Henrique Pousão (1859-1884)
1882
Óleo sobre madeira

Ficha de inventário

Pintada em Roma em 1882, Senhora Vestida de Preto é uma das numerosas tabuinhas nas quais Henrique Pousão esboçou um novo projeto para exprimir o melhor do seu entendimento da pintura, com formas expressivas e recortadas em manchas densas de cores justapostas num jogo de contrastes de claro-escuro e luz-sombra.
Elemento dominante da composição, o vestido preto é esboçado em pinceladas que estruturam a forma e dão movimento ao corpo. A luz que vem da direita e ilumina toda a composição acentua os planos do vestido com subtis pinceladas cinzentas. O corpo ligeiramente inclinado para a frente adquire o equilíbrio na torção da cabeça e na direção do olhar para o lado oposto, de onde emana a luz que ilumina o rosto e projeta a sombra para lá da figura.

Cruz e Galhetas

Conjunto de cruz-relicário do Santo Lenho e par de galhetas eucarísticas
Índia
Finais do séc. XVII/ inícios do século XVIII
Jade nefrítico, ouro, prata dourada, rubis e vidro incolor [cruz];
Jade nefrítico, ouro, prata dourada, vidro azul, dobletes de quartzo, topázio(?) e vidro incolor, esmaltes [galhetas]

Ficha de inventário – cruz relicário

Ficha de inventário – galheta 1

Ficha de inventário – galheta 2

Proveniente da Índia Mogol, Império fundado em 1526 e extinto em 1857 que ocupava territórios hoje pertencentes à Índia, Paquistão, Afeganistão e Bangladesh, este conjunto foi criado nos finais do século XVII e pertenceu originalmente ao Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, ofertado pelo rei D. João V a D. Lourenço de Lencastre, Dom Abade desta Real Abadia.
Após a extinção deste Mosteiro, passou a fazer parte da coleção privada dos reis D. Fernando II e, posteriormente, de D. Luís I, integrando o Tesouro Real guardado no Palácio das Necessidades. A transferência para o MNSR ocorreu em 1941.
No conjunto de três peças, a cruz-relicário destaca-se do par de galhetas pela qualidade de execução dos motivos vegetalistas gravados nas duas placas do cruzeiro, onde se expõem os fragmentos do Santo Lenho (relíquia da Cruz de Cristo). Evidencia-se igualmente pela qualidade técnica de aplicação do ouro no jade e a preciosidade das gemas que a enriquecem.

Par de Pulseiras

Bronze final Atlântico /1.ª Idade do Ferro – séculos VII / VI (final) a.C.

Achado casual no Rocio de São Sebastião, Castro Verde, Portugal

Ouro fundido em cera perdida e laminado; decoração incisa

Ficha de inventário – pulseira 1

Ficha de inventário – pulseira 2

Estas peças de cunho arqueológico pertenciam à coleção pessoal de D. Fernando II (1816-1885), rei-consorte de Portugal, reunida ao longo da segunda metade do século XIX, no Palácio das Necessidades, em Lisboa. Em 1941 foram depositadas no MNSR.

Investigações recentes permitiram trazer à luz dados que esclarecem a história destas peças, fornecendo informações sobre o local do seu achado e como se processou a sua aquisição por parte do rei que, em manuscrito, registou todos estes factos.

Procedente de um achado ocasional a sul de Portugal, este par de pulseiras é um exemplar raro da ourivesaria proto-histórica – período da história entre o I milénio a.C. e os seus finais –, e assume significado e importância especiais, não só neste núcleo do Museu, mas também e sobretudo no contexto geral da joalharia portuguesa.

Testemunhos da existência e florescimento de uma produção de ourivesaria local desde períodos recuados, estes objetos de adorno pessoal em ouro maciço refletem já o conhecimento de certas formas decorativas, técnicas construtivas e processos de fabrico que ainda hoje permanecem.

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