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Categoria de Coleção: Escultura

Na coleção de Escultura do Museu Nacional Soares dos Reis sobressai a obra de Soares dos Reis e o seu célebre Desterrado. Na linha de sucessão deste artista português, o Museu integra peças de Teixeira Lopes e de vários discípulos da Escola de Belas Artes do Porto. Há também um núcleo que alinha vários artistas do Modernismo e o espólio do escultor-ceramista alemão Hein Semke.

Soares dos Reis projetou-se pelo último quartel do século XIX, época em que frutificaram relações europeias no ensino artístico através da atribuição de bolsas de estudo. Foi neste contexto que o finalista concebeu O Desterrado (Roma, 1872), obra de inspiração saudosista que se converteu em verdadeiro ícone nacional. São de destacar ainda Flor Agreste, as estátuas do Conde de Ferreira e o gesso de Brotero. Na área do retrato ficou célebre o Busto da Inglesa, Mrs. Leech. Entre os discípulos de Soares dos Reis na Escola de Belas Artes do Porto demarca-se António Teixeira Lopes com Infância de Caim (1890), que antecede a transição para o Naturalismo. Nesta corrente distingue-se uma Cabeça de Velha de Fernandes de Sá, reveladora da influência de Rodin, esbocetos de Alves de Sousa e peças de Oliveira Ferreira, Pinto do Couto, Américo Gomes e outros. Na década de 1920, surgem ligados ao impulso modernista António Azevedo, Diogo de Macedo e Francisco Franco, que se aproximam pelo tratamento depurado no retrato, enquanto Canto da Maya explora o ideal de retorno às origens da arte europeia em peças como Baiser. Retoma-se a Escola do Porto com obras de Gustavo Bastos e Irene Vilar, na sucessão de mestre Barata Feio. Numa linha não-figurativa demarca-se a Abstração I de Arlindo Rocha (1949). Finalmente, o espólio de Hein Semke deixa transparecer ideais de Paz e Justiça em obras de apelo transcendental. A coleção de Escultura abrange ainda a Romanização da Península, como ilustra um Sarcófago alusivo às Quatro Estações do Ano originário de Reguengos, no Alentejo. São ainda de valorizar obras de arte da Idade Moderna e Medieval, em cujo percurso impera um Cristo articulado, datável dos séculos XIII-XIV entre Valladolid e Palência.

Sarcófago alusivo às Quatro Estações do Ano

Sarcófago alusivo às Quatro Estações do Ano

Século III – IV d.C
Mármore esculpido em baixo-relevo
Ficha de inventário

Esta arca tumular romana foi descoberta em 1840 no Monte da Azinheira em Reguengos, na região de Évora. A iconografia deste sarcófago parece conter um sentido religioso, que deve relacionar-se com o mistério da existência após a morte: na verdade, a evocação do culto de Baco, feita através de símbolos de vindimas e lagares, sugere os prazeres de uma vida além-túmulo.
A arca apresenta um friso em baixo-relevo alusivo às Quatro Estações do Ano, em torno de um medalhão central com o retrato do homenageado empunhando um volumen – símbolo da magistratura municipal. Este medalhão é suportado por duas vitórias aladas, por sua vez ladeadas pelos Génios das Estações: à esquerda, um jovem personifica a primavera enquanto aves de caça simbolizam o outono; à direita, flores e frutos aludem ao verão sendo o inverno representado por um velho de barbas. Nos extremos da arca figuram um pastor tocando flauta de Pan e jovens pisando uvas numa dorna.

Abstração I

Abstração I

Arlindo Rocha (1921-1999)

1949

Bronze 

Ficha de inventário

Arlindo Rocha pertence à geração nascida na década de 1920, onde se incluem Gustavo Bastos e Irene Vilar, seguidores do mestre Barata Feyo. Mas ao contrário destes, Arlindo Rocha lançou-se no Abstracionismo com Abstração I, peça que teve grande impacto na Exposição Independente, em Braga, em 1949. 

Apesar deste tipo de experiências, Arlindo Rocha manteve uma produção no campo figurativo, da qual é testemunho o Torso feminino em mármore de Estremoz em depósito no MNSR e que reflete a influência de Rodin na Escultura portuguesa. 

No Porto têm visibilidade pública a estátua do Bispo D. António Ferreira Gomes junto à Igreja dos Clérigos, os frisos em relevo do Tribunal da Relação e a imagem de Santo António das Antas.  

Retrato da escritora Maria Oswald

Cabeça de velha

Irene Vilar (1930-2008)

1954

Bronze

Ficha de inventário

O retrato da escritora Maria de Castro Henriques Oswald (Porto 1893-1988) reflete a ligação que muitas vezes se gera entre escultores e intelectuais, aspeto que é notório na coleção de escultura do MNSR. Tal relação teve na obra de Irene Vilar um significado especial, como fica claro nos seus retratos de poetas, entre eles, Fernando Pessoa, Florbela Espanca e Cesário Verde.

Este retrato de Maria Oswald pertence a uma fase inicial em que Irene Vilar concluiu o curso de Escultura da Escola de Belas Artes do Porto, onde foi aluna do mestre Barata Feyo .

Baiser

Baiser

Ernesto Canto da Maya (1890-1981)

1934

Terracota 

Ficha de inventário

O Beijo é uma obra modernista em barro patinado fazendo valer aspetos de uma arte figurativa que explora o ideal de retorno às raízes europeias, nas linhas propostas pelos escultores Antoine Bourdelle e Aristide Maillol, uma corrente que ganhou adesão em Paris pela década de 1920. 

No conjunto da obra de Canto da Maya, o Beijo enquadra-se numa fase em que o autor exalta o que é exuberante e o sensitivo, na procura da essência do ser humano. As figuras saem totalmente fora dos cânones e são modeladas em barro, a matéria-prima ideal para dar forma à noção de erotismo associada ao par primitivo. 

      

Cabeça de velha

Escultura Cabeça de velha

António Fernandes de Sá (1872-1959)

1901

Mármore de Carrara

Ficha de inventário 

Este busto de contorno irregular deixa evidente a pedra mármore, matéria onde emerge a figura de uma idosa, de pálpebras descaídas e ossos salientes de um rosto magro; o tronco despido deixa ver as clavículas e o pescoço esguio. 

O artista confronta-nos com a crua realidade da beleza perdida. Baseia-se seguramente num tema que recua a 1887 referindo-se, em concreto, a uma das pilastras das Portas do Inferno de Auguste Rodin, a quem se fica a dever também, com esta figuração, o impressionante mármore Celle qui fut la Belle Heaulmière.

A Caridade

A Caridade

António Teixeira Lopes (1866-1942)

1899 

Bronze     

Ficha de inventário

Este bronze é um exemplar fidedigno do modelo da Caridade pertencente à Casa-Museu Teixeira Lopes. O respetivo mármore relaciona-se com o jazigo de A. Caetano de Carvalho no Cemitério de Agramonte, no Porto, sobre o qual Teixeira Lopes escreveu nas suas Memórias dizendo ter sido um dos seus melhores trabalhos. 

A interpretação da Caridade segue os parâmetros do Naturalismo afastando-se da iconografia tradicional, que punha em cena uma mulher cobrindo com o manto crianças famintas. Em vez disso, Teixeira Lopes foca-se na expressão de sofrimento de uma irmã da Caridade, caracterizada à época, amparando crianças desnutridas. Debaixo da touca vê-se o rosto de olhar perdido, enquanto as mãos emagrecidas amparam a custo os meninos desvalidos. 

Infância de Caim

Infância de Caim

António Teixeira Lopes (1866-1942)

1890      

Mármore de Carrara

Ficha de inventário

Esta é uma obra fundamental de Teixeira Lopes, no sentido em que marca a sua projeção no meio artístico. A escultura foi adquirida pela Câmara Municipal do Porto numa exposição individual realizada no Palácio da Bolsa, após ter sido premiada no Salon de 1890. 

A figura bíblica de Caim pode ter diversos significados mas, no essencial, personifica a Inveja. Neste caso, Teixeira Lopes recorre ao modelo infantil, fórmula muito expandida na época, dando provas de todo o seu poder criativo e domínio técnico. São de notar o corpo magro da criança, de expressão perturbada, cabelo crespo, braços tensos e mãos apertadas. 

Busto da Inglesa, Mrs. Leech

Busto da Inglesa, Mrs. Leech

António Soares dos Reis (1847-1889)

1887      

Bronze

Ficha de Inventário

Este bronze reproduz o gesso que se expõe na Casa-Museu Teixeira Lopes, o qual foi concluído em Lisboa em novembro de 1887. O mármore não chegou a ser assinado levando a crer que tivesse sido recusado. Este insucesso e outros problemas de ordem profissional terão levado o artista ao suicídio, em 16 de fevereiro de 1889. 

Nesta obra, Soares dos Reis respondeu ao desafio de retratar uma senhora inglesa, onde fez assinalar uma personalidade extremamente austera. Para isso contribuem a pose frontal e o olhar profundo do modelo, vestido de mantilha fechada. Visto de perfil, descobre-se um penteado sóbrio, com puxo de tranças, tratado com extrema delicadeza. 

A retratada é Mrs. Elisa Ashworth, que o escultor conheceu no Porto e se apresentava com grande discrição, a ver pelo modo como se deu a fotografar justamente perto dos seus 48 anos, de capa fechada e cabelo preso.

Filha dos Condes de Almedina

Filha dos Condes de Almedina

António Soares dos Reis (1847-1889)

1882 

Mármore de Carrara

Ficha de inventário

Luísa Guimarães Guedes era filha de Delfim Guedes, Conde de Almedina, figura destacada no meio artístico como inspetor da Academia Real de Belas Artes de Lisboa. A evolução da obra está documentada em desenho e maquete revelando o envolvimento do artista. 

Nesta obra final há que notar a complexa elaboração do modelado, em especial no cabelo, flores e bordado do vestido. Em termos da composição, são traços definidores de um esquema muito próprio de Soares dos Reis: a pose sinuosa com cruzamento de braços a meio-corpo do modelo, tratado em repouso, de expressão reservada. 

Flor Agreste

António Soares dos Reis (1847-1889)

1881

Mármore de Carrara

Ficha de inventário

Supõe-se que o modelo da Flor Agreste era filha de uma carvoeira que passava por perto do atelier de Soares dos Reis. A menina foi retratada em 1878, quando Soares dos Reis aguardava a construção da sua casa-oficina na Rua Luís de Camões, em Vila Nova de Gaia. 

A escultura em mármore foi vendida numa exposição-bazar do Centro Artístico Portuense, de que Soares dos Reis foi um dos fundadores, realizada em 1881 no Palácio de Cristal. Postumamente, o modelo em gesso da Flor Agreste serviu de matriz para diversos tipos de reprodução, em vários tamanhos e materiais, conferindo à obra uma difusão extraordinária. 

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