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Artur Loureiro e as pinturas realizadas em Vila do Conde

11 de Fevereiro, 2024

Artur Loureiro nasceu no Porto, a 11 fevereiro de 1853. Começou a estudar desenho e pintura com o mestre e amigo António José da Costa, tendo depois ingressado na Academia Portuense de Belas Artes, onde continuou a sua aprendizagem com João António Correia.

 

Em 1873, concorreu ao pensionato em Paris, do qual viria a desistir em favor de Silva Porto. Em 1875 voltou a concorrer a pensionista, desta vez para Roma, onde acabou por ingressar no Círculo Artístico.

 

Em 1879, o artista voltou a candidatar-se a bolseiro em Paris, onde viveu no Quartier Latin e frequentou a École des Beaux-Artes, onde foi discípulo de Cabanel. Aqui se apaixonou, ligando-se sentimentalmente a uma australiana, Marie Huybers, com quem casou.

Em 1884, fisicamente debilitado, emigrou para a Austrália, fixando-se em Melbourne. Só no início do século XX regressou em definitivo ao Porto, empenhando-se no fomento das artes. Na sua cidade natal montou, então, um atelier-escola, numa ala do já desaparecido Palácio de Cristal, o qual se tornou um espaço de referência, procurado por aspirantes a artistas e admiradores do pintor. Aí ensinou, pintou e expôs.

 

Passou uma temporada em Vila do Conde, onde produziu várias obras. Este facto é reforçado por, em 1933, ter sido apresentada em exposição a obra “Tio Francisco” como pertença da coleção que, anos mais tarde, foi legada ao Museu Nacional Soares dos Reis e de onde provém esta figura de homem (Cabeça de velho – na imagem). A paisagem de fundo desta pintura situa a representação em Vila do Conde, identificada pela presença inconfundível da cúpula da Capela de Nossa Senhora do Socorro, inserida no casario ribeirinho daquela cidade.

 

A este propósito, recordamos o artigo de António de Lemos, no qual se escreve:

«Arthur Loureiro, esse grande artista que durante tantos annos viveu longe de nós, n’esse bello paiz, a Australia, e que uma vez cá, filho do Porto, amando o seu ninho com um amor especial de artista, apoz a sua primeira exposição onde nos mostrou que era um delicado pintor de figura, com os seus retratos, e os seus typos admiravelmente executados, vae para bem perto do Porto, para Villa do Conde e cheio de vontade e repleto de savoir faire, lança á tela lindos quadros que são como filigranas da arte pintural. (…)

 

Andam os nossos pintores delineando paisagens, por esse paiz em fóra e nenhum, que me lembre, tinha ido pintar para Villa do Conde. Talvez porque julgassem não haver alli nada que pintar e Arthur Loureiro, que ha vinte annos estava fóra do seu paiz, chegou e para socegar dos seus trabalhos escolares foi para essa linda praia descançar e que descanço o seu, voltou trazendo na sua bagagem deliciosas telas, formosissimas. Querer citar as melhores seria cital-as todas, eu porém notarei como primordial―A Senhora da Guia―depois, as Azenhas e d’estas não sei se o que resplende de sol, se o outro, feito por uma manhã triste de chuva.

 

A Igreja matriz, tambem o noto pelo bello do effeito. Como uma mancha retumbante, n’aquella suavidade de côr, os reposteiros da igreja fazem resaltar o quadro (ora aqui está onde eu decerto dou raia, em ter recebido uma bella impressão pelo vermelho que destaca do quadro, mas sou assim e não ha nada que me atrapalhe).

 

A Paisagem geral de Villa do Conde, com o seu convento e a sua cazaria branca é formosa.

 

O Passado, quadro cheio de poesia e de candura. Como um poema, de amor, de dôr e de miseria aquella velha sentada á porta da igreja, onde talvez ella se baptisara, casára e seria enterrado o seu companheiro de muitos annos, talvez um pescador, que ella hoje chora, pedindo esmola, na sua miseravel e angustiosa viuvez.

 

Mas vamos fechar este artigo que vae já longo de mais. Antes porém notaremos dous quadros, um que se intitula―Não voltará mais, e que é outro poema de dôr. Junto d’uma bella arvore em flor, um redondendro, uma viuva e uma creança olham o mar.

 

Esse mar gigantesco e barbaro que foi, decerto, quem subjugou para sempre o ente querido d’essas duas figuras insinuantemente bellas nas suas silhouetes».[1]

 

[1] In «Notas d’arte», António de Lemos, 1906

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